A redação é o passaporte da aprovação

Um grande sapiente já disse: organização é o segredo para atingir o sucesso. Brincadeira, inventei essa frase agora, mas ela não deixa de ser correta.

Assim, se você quer arrasar na redação, uma das primeiras coisas que deve aprender é a organizar e estruturar o seu texto. Não é complicado.

Como fazer a redação do Enem Passo a Passo


Primeiro, vamos entender como a dissertação funciona. Ela é dividida em três partes: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.
Missão Enem É Bom E Funciona

Introdução é a parte do texto em que se coloca a ideia-chave, o assunto da dissertação. A partir da ideia principal é que se desenvolve o resto do texto, onde você pode justificar e apresentar fatos que comprovem sua tese. Segredos da Redação Perfeita do Enem

Os parágrafos do meio são os que vão dar sustentação à tese exibida na introdução. É esse o momento de justificar, demonstrar, provar as declarações feitas no início.

Os parágrafos de desenvolvimento devem ser marcados pela progressão, ou seja, o texto dissertativo deve ser planejado de forma que vá apresentando novos dados, claras e pertinentes.

Ou seja, nada de enrolação ou de repetição desnecessária do que já foi dito!

Para facilitar sua argumentação, você pode separar o desenvolvimento de cada ideia em um parágrafo diferente.

Além disso, você precisa construir uma boa conclusão.

Desenvolvimento Além de apresentar fatos que fundamentem a sua dissertação, é importante que você também aponte argumentos contrários e que aponte porque, de acordo com a sua tese, eles não são verdadeiros. Afinal, dissertação não é um artigo de opinião, o que significa que as opiniões contrárias também devem ser consideradas.

Conclusão Parte final do trabalho. Mas é preciso que uma coisa fique clara: concluir não é simplesmente “terminar” o texto.

Como fazer a conclusão da redação do Enem

A conclusão é feita de apreciações que confirmam os aspectos apresentados nos parágrafos anteriores. É o momento de oferecer uma solução ou demonstrar algum tipo de expectativa em relação à sua tese e ao assunto como um todo.

Dicas para fazer a redação do Enem


Atenção: a conclusão não é o momento de levantar questionamentos que não tenham sido esclarecidos nos parágrafos argumentativos, portanto EVITE frases interrogativas.

Com essas instruções na cabeça, o segredo do planejamento da redação é já saber exatamente o que vai apresentar em cada parágrafo antes mesmo de iniciar o texto.

Além disso, compreender quantas linhas você vai ter para desenvolver cada argumento é absolutamente vital para você saber de quanto espaço dispõe para expor cada ideia. Preparamos um esquema básico ideal para uma redação dissertativa perfeita de 30 linhas.

Veja: Mas calma! Só porque colocamos aqui que é um esquema ideal, não significa que você precise seguir à risca as quantidades de linhas. Essa orientação é apenas para auxiliar quem estiver desgovernado e não souber bem quanto espaço utilizar para cada parte do texto.

Tempo e espaço na narrativa

Na medida em que fazem parte da estrutura do texto narrativo, as categorias de tempo e de espaço - o quando e o onde da história - precisam combinar-se e articular-se de forma que não seja possível compreendê-los isoladamente, ou seja, independentemente do narrador, do enredo, dos personagens etc.

Em outras palavras, a coerência e a verossimilhança do texto narrativo dependem da implicação mútua entre tempo e espaço, e também da implicação de ambos com os outros elementos constitutivos da narração.

Exemplo: Perceba que o fato de ambientar-se na cidade de São Paulo, um exemplo de grande metrópole, e também o fato de ter claras marcas temporais que remetem aos nossos dias, à contemporaneidade, constituem elementos imprescindíveis à compreensão de O andarilho e sua Sombra, tanto no que diz respeito à estruturação do texto, quanto no que diz respeito à análise de seu significado.

• Tempo cronológico e tempo psicológico

O tempo cronológico predomina numa narrativa quando ela privilegia os acontecimentos exteriores, imitando a forma como ocorrem na realidade.
Já o tempo psicológico predomina no caso da narrativa que enfoca os estados interiores dos personagens.

Exemplo: O andarilho e sua Sombra e Caso de Secretária são narrativas em que predomina o tempo cronológico, enquanto em Tantas Mulheres, de Dalton Trevisan, o tempo psicológico se mistura com o cronológico, deixando-o em segundo plano.

Uma narrativa com personagem-narrador

O andarilho e sua sombra

Sempre que posso, saio a pé pelas ruas da cidade. Onde quer que more, com ou sem trânsito, é assim. Nada para mim substitui o contato direto com a rua, a ótica nua do pedestre e o exercício suave da condição de bípede reflexivo. Adoro quando me acontece de poder caminhar até o local de algum compromisso ou encontro e considero um privilégio inconfessável o luxo de perambular a esmo, sem propósito definido, pelo simples prazer peripatético de espiar, devanear e ruminar.
Não é sempre, porém, que me permito o luxo desse esbanjamento. Só quando sinto que cumpri alguma tarefa e, de certa forma, conquistei o direito de vagabundear um pouco. Na era do politicamente correto e da máxima eficácia em tudo, temo a chegada do dia em que o deleite inocente de se caminhar sem expectativa de ganho e sem propósito definido seja considerado um crime.
Um dia desses, não faz muito tempo, eu estava a poucos quarteirões de casa quando fui abordado na calçada por um homem de aparência humilde e jeito acanhado. Não era um mendigo. Parei e perguntei o que era.
Ele então apontou para uma pequena placa do canteiro de obras e me pediu, assim meio de lado, se eu podia ler para ele o que estava escrito nela. Queria saber, explicou, se estavam oferecendo emprego.
Li a placa em voz alta ("vende-se material usado"), lamentei que não era o caso e sugeri que fosse ao vigia da obra perguntar se estavam precisando de gente. Nunca mais o vi.
O episódio em si não durou mais que um par de minutos, talvez nem isso. Mas a situação daquele homem simples procurando emprego, o dedo furtivo apontando a placa e a interrogação muda estampada em seu rosto expectante têm me acompanhado de forma intermitente desde aquela manhã.
A sensação imediata, enquanto andava de volta para a casa, foi de um mal-estar difuso e uma ponta de remorso. A estranha dignidade daquele gesto difícil mexeu comigo. Como aquele sujeito teria vindo parar ali? Teria família, filhos, dívidas? Ele não parecia desesperado. Mas até que ponto, eu me perguntava, as aparências revelavam o seu estado?
Comecei a pensar nas dificuldades e embaraços inusitados que alguém como ele enfrenta cotidianamente. Como se vira um analfabeto no cipoal urbano de São Paulo? Como faz para encontrar um endereço, apanhar o ônibus certo, contar o troco, não ser trapaceado na quitanda da esquina?
O analfabetismo numa grande cidade chega a ser uma deficiência tão debilitadora quanto a cegueira ou a surdez. É todo um universo de informação que se fecha, que nunca se abriu. Como nós que lemos e escrevemos como quem respira e caminha podemos sequer vislumbrar o que possa ser isso?
E por que diabos não fui mais solidário? O que me custaria, afinal, ser mais solícito e tentar ajudá-lo a se orientar um pouco? Podia, ao menos, ter perguntado se precisava de dinheiro para tomar uma condução. Inverti, na imaginação, os papéis: o que eu, no lugar dele, esperaria de alguém como eu? Vontade (abstrata) de voltar no tempo, ser melhor do que fui. Era tarde. Será diferente da próxima vez?

(Eduardo Giannetti - Folha de São Paulo, 02/04/98)



Comentários

Observe que aqui temos uma narrativa em 1ª pessoa, com personagem-narrador.

Este personagem-narrador, nos dois parágrafos iniciais, cria descritivamente as circunstâncias em que se dá o episódio narrado. Além disso, após a narração, ele coloca um parágrafo explicativo, a partir do qual passa a dissertar, isto é, a refletir sobre o que ocorreu.

Exemplo:

O episódio em si não durou mais que um par de minutos, talvez nem isso. Mas a situação daquele homem simples procurando emprego, o dedo furtivo apontando a placa e a interrogação muda estampada em seu rosto expectante têm me acompanhado de forma intermitente desde aquela manhã.
Esta reflexão abrange uma questão social, de grande relevância em nosso país:

O analfabetismo numa grande cidade chega a ser uma deficiência tão debilitadora quanto a cegueira ou a surdez. É todo um universo de informação que se fecha, que nunca se abriu.

Outro elemento interessante presente no texto é que, ao colocar em 1a pessoa, isto é, como narrador e simultaneamente como personagem da matéria narrada, o autor transforma-se em fato-exemplo de outra questão social, tão grave quanto a menciona trata-se das diferenças sociais e, mais do que isso, da falta de solidariedade entre as pessoas.

Exemplo:

Como nós que lemos e escrevemos como quem respira e caminha podemos sequer vislumbrar o que possa ser isso?

E por que diabos não fui mais solidário? O que me custaria, afinal, ser mais solícito e tentar ajudá-lo a se orientar um pouco?

Desta forma, temos um exemplo de narração dissertativa, com elementos descritivos, num contexto de jornalismo opinativo. Note que a presença do eu não apenas narrando, mas se inserindo no narrado, aumenta a vitalidade do texto, torna-o mais expressivo e conseqüentemente mais propício não apenas à compreensão intelectual, mas, ainda, à adesão emocional do leitor àquilo que lê. Trata-se, enfim, mais uma vez, de conciliar o esclarecer convencendo e o impressionar agradando... no processo de elaboração textual.


Narrador e foco narrativo

Chamamos de narrador a categoria narrativa por meio da qual o autor conta uma história. O narrador, a voz que conta a história, é, então, um elemento imaginário; faz parte do reino da ficção, assim como os personagens e os acontecimentos que a vivenciam, caso se trate de uma narrativa literária.

O estudo dos modos possíveis de contar uma história, isto é, das posições do narrador perante o que conta é conhecido como foco narrativo: trata-se do questionamento, na ficção, de quem narra, de como se narra, dos ângulos de visão através dos quais se narra.

Há, basicamente, dois tipos de foco narrativo: aquele em que o narrador que conta a história também participa dela, como personagem (narração em primeira pessoa: personagem-narrador) e aquele em que o narrador não participa da história que conta.



Este segundo narrador existe nas narrações em terceira pessoa e se subdivide em dois tipos:

Narrador-observador: o narrador conta a história como mero observador dos acontecimentos, dos quais não participa diretamente. Não sabe, a respeito do que acontece, mais do que pode observar. Passa para o leitor os fatos como os teria enxergado.

Narrador-onisciente: o narrador é capaz de revelar tudo sobre o enredo e os personagens da história. Ele conhece e expressa o próprio pensamento, a própria voz interior dos personagens, desvendando seus monólogos e diálogos íntimos. Às vezes, sabe até vivências inconscientes dos personagens, ou seja, sabe mais deles do que eles próprios. Geralmente, este tipo de narrador faz uso do discurso indireto livre, como vimos em Caso de Secretária e Tantas Mulheres, textos que exemplificam este tipo de narrador.